abr 07, 2015 AgroCeleiro Noticias, Pecuária Corte 0
Tradicional criador de animais em pastagens, o Rio Grande do Sul abre, aos poucos, os olhos para o sistema de integração capaz de garantir a expansão da área de grãos e, ao mesmo tempo, assegurar carne de qualidade com mais rapidez, menos custos e em menor área: o confinamento.
Integrante da diretoria da Federação do Agricultura do Estado (Farsul) e presidente da Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências (Federacite), Carlos Simm afirma que confinar é uma tendência irreversível e estratégica para o Estado em termos de competitividade, especialmente em regiões em que há grande potencial para produzir soja e milho.
— Este processo requer tecnologia e investimento, mas está perfeitamente adequado ao nosso sistema agrícola ao otimizar espaço e permitir ampliar a produção de grãos, viabilizando, assim, alimentação mais barata para o gado.
Não há números oficiais sobre o total de animais confinados no Estado — a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) estima que não passe de 50 mil. Mas o Rio Grande do Sul já tem se caracterizado como fornecedor de animais para confinamento em outras regiões. Carlos Simm observa, porém, que, ao desenvolver todo o processo, da engorda ao abate, o Estado poderá ter ainda mais vantagens.
— Pode garantir oferta de gado gordo o ano todo, fechar parcerias e organizar a cadeia, sem contar que atenderá melhor a um consumidor cada vez mais exigente e em busca de alta qualidade.
O cenário nacional para confinar tem sido favorável. Após um bom 2014, a Assocon projeta aumento de 7,65% no número de animais confinados no Brasil em 2015. Gerente-executivo da entidade, Bruno Andrade diz que cerca de 64% do gado necessário para cumprir a meta está adquirido, mas frisa que o alcance da parte pendente está comprometida diante dos altos valores dos animais de reposição:
— O cenário é positivo no primeiro semestre e incerto no segundo. Torcemos para que o preço do boi gordo mantenha o patamar e que não diminua o consumo de carne devido à conjuntura econômica.
Sobre o avanço do confinamento no Estado, Andrade destaca a qualidade do gado gaúcho como diferencial, especialmente quanto à genética. A opinião é endossada por Fábio Medeiros, gerente do programa Carne Angus Certificada, que abate mais de 300 mil animais no Brasil, sendo 40% deles no RS. Para Medeiros, a genética é decisiva para o animal atingir peso e grau de acabamento ideal para produzir carne boa precocemente.
— Podemos aproveitar a oportunidade e fazer o confinamento avançar no RS, pois a boa matéria-prima que outros Estados buscam a gente já tem. E dispomos de um sistema produtivo bem formatado para se adaptar — ressalta Carlos Simm.
Pesquisador em nutrição animal da Embrapa Gado e Corte, Rodrigo Gomes avalia que a tendência de alta no confinamento é viável diante da valorização da carne e da maior disponibilidade de grãos.
— O produtor deve ver o confinamento como ferramenta para melhorar a eficiência produtiva.
Peso dobrado em 2023
Hoje, só 10% da carne produzida no Brasil é proveniente de animais criados em confinamento. Mas estudo do banco Rabobank prevê que a produção a partir de gado confinado suba de 900 mil toneladas, em 2013, para 2,5 milhões em 2023. E calcula que a capacidade anual de confinamento dobre, chegando a 9 milhões de cabeças.
— Chegar a 20% é factível. Há um movimento natural para reduzir áreas de pastagens e aumentar as de grãos e florestamentos. E confinar é uma oportunidade de acelerar o ciclo e atender o mercado internacional — diz Adolfo Fontes, analista sênior do Rabobank.
Ele explica que o prognóstico leva em conta a crescente integração entre agricultura e pecuária.
— Normalmente, o crescimento da área de grãos se dá sobre pastagens degradadas com baixa produtividade. Logo, há necessidade de a pecuária produzir mais em menor área e de se realocar terras para outras atividades, o que é possível por meio do confinamento.
Para o zootecnista e consultor de mercado da Scot Consultoria Alex Lopes, o avanço do confinamento deve ser visto com cautela. Ele observa que implantar e manter o sistema, ainda mais em cenário de instabilidade econômica, pode ser bastante arriscado:
— O confinamento tem custo diário por cabeça considerável, depende muito do mercado de grãos e exige alto investimento. O ano passado foi extremamente positivo, com propriedades obtendo até 25% de retorno sobre o capital investido. Mas há anos que não compensam, são de alto risco.
Fonte: ZH
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