dez 09, 2014 AgroCeleiro Noticias 0
Berço da ovinocultura brasileira, o Rio Grande do Sul tenta retomar o perfil extensivo da atividade que já teve dimensão três vezes maior. Estimulados pela valorização da carne ovina e pela estabilidade do setor de lã, produtores gaúchos aumentaram em 12% o número de animais nos últimos três anos — superando 4 milhões de cabeças.
Apesar da atual liderança nacional na produção, o Estado está muito aquém do rebanho de cerca de 13 milhões da década de 1980. É justamente a escassez de oferta que limita o crescimento do consumo brasileiro de carne ovina — hoje de 400 gramas per capita ano. Em 2013, foram consumidas 88 mil toneladas do produto no país, das quais 7 mil foram importadas do Uruguai.
— Os frigoríficos precisam de matéria-prima para firmar contratos de venda e ter viabilidade econômica – destaca José Galdino Garcia Dias, coordenador da Câmara Setorial dos Ovinos e responsável pelo Mais Ovinos no Campo.
Criado em 2011, o programa ofereceu mais de R$ 100 milhões em crédito para retenção e aquisição de matrizes ovinas no Estado. Na época, o rebanho gaúcho era de 3,7 milhões de cabeças. Em novembro deste ano, o número registrado pela Secretaria Estadual da Agricultura era superior a 4,1 milhões de cabeças.
— E até janeiro, com o nascimento de cordeiros do período de safra, chegaremos a mais de 4,4 milhões de cabeças – estima Galdino, acrescentando que, com capital de giro, o produtor consegue manter e organizar a criação.
Abates ainda desafiam
Para aumentar o consumo per capita em dois quilos por ano, por exemplo, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), seria necessário triplicar o rebanho nacional — passando de 17 milhões de cabeças para 50 milhões.
Embora seja primordial para a expansão de mercado, o crescimento não é o único desafio do setor. Tão crucial quanto é reduzir a informalidade dos abates — 95% dos animais no país, segundo a Arco, não passam por inspeção.
— Estamos trabalhando para criar um programa nacional de sanidade e organizar a cadeia produtiva — destaca o presidente da Arco, Paulo Afonso Schwab, acrescentando que o Rio Grande do Sul é o único Estado a ter legislação sanitária para ovinos.
Conforme dados da Secretaria Estadual da Agricultura, dos cerca de 1,6 milhão de animais abatidos no ano passado, 250 mil passaram por inspeção e 280 mil foram abatidos para consumo próprio. Não se sabe o destino do restante, em torno de 1 milhão de animais nascidos e declarados.
— A formalidade do setor é fundamental para ampliarmos oferta e mercado — resume Schwab.
Existe muito mercado para a carne ovina, inclusive no Exterior, o que falta é ter uma
oferta em grande escala — José Galdino Garcia Dias, coordenador da Câmara
Setorial dos Ovinos
O foco da ovinocultura no passado era a lã. Hoje, a produção de carne é que rentabiliza
a produção — Paulo Afonso Schwab, presidente da Associação Brasileira
de Criadores de Ovinos (Arco)
De secundário à prioridade
No Estado onde a criação de ovinos envolve mais de 50 mil produtores, a atividade não costuma ser a principal renda da propriedade pelo número reduzido do rebanho — em torno de 86 animais por criador.
Produtor em Lavras do Sul, Rui Afonso Teixeira, 64 anos, inverteu essa lógica. De quatro anos para cá, ampliou em 80% o plantel criado na fazenda Santa Jovita, tornando a ovinocultura mais rentável do que o rebanho de bovinos.
— A carne de cordeiro é muito valorizada no mercado, sem contar que o período de engorde é mais rápido do que o gado — conta Teixeira, que vende os animais
para os mercados gaúcho, catarinense e paulista.
Há três anos, o produtor acessou a linha de crédito do programa Mais Ovinos no Campo e investiu R$ 100 mil na compra de matrizes das raças texel e corriedale, ampliando o rebanho para 1,8 mil ovinos:
— E vou continuar investindo com foco na produção de carne de qualidade — afirma o produtor.
A rentabilidade é um dos atrativos da ovinocultura, já que existem diferentes raças que podem ser destinadas para produção de carne e de lã.
O preço do quilo pago ao produtor no Estado, na semana passada em R$ 4,29, segue firme nos últimos anos. No mercado paulista, onde a oferta da carne é mais escassa, o preço do quilo vivo chega a R$ 7.
— A produção de lã é mais restrita ao Rio Grande do Sul (o Estado produziu 12 mil toneladas no ano passado), embora represente um mercado importante também – destaca Paulo Afonso Schwab, presidente da Arco.
70%
do faturamento da ovinocultura no Estado é proveniente da produção de carne.
R$ 1,6 mil
é o valor médio dos reprodutores estimado para a temporada de remates, recém-iniciada no Estado.
Feiras e eventos
Veja abaixo a agenda da Secretaria Estadual da Agricultura e da Arco
Dezembro de 2014
— 11 — Feira de Ovinos, em Caçapava do Sul
— 12 — Feira de Ovinos, em Arroio dos Ratos
— 12 e 13 — Feira de Ovinos de Verão, em São Gabriel
— 19 e 20 — Feira do Cordeiro Missioneiro, em São Borja
Janeiro de 2015
— 13 a 18 — 7ª Agrovino, em Bagé
—22 a 25 — 5º Nacional do Texel e 17º Merco Texel, em Santana do Livramento
— 28 a 1º/2 — 30ª Feovelha, em Pinheiro Machado
Foto Emater, Divulgação
Técnica de tosquia traz mais rapidez
A produção de ovinos no Estado é fortalecida por ações que vão do melhoramento genético à capacitação técnica para manejo do rebanho. Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura (Fundovinos), os projetos buscam desenvolver o setor de maneira organizada e profissional.
Uma das iniciativas é a técnica australiana Tally-Hi. O método de tosquia se diferencia pela forma de imobilizar a ovelha e retirar a lã em menor tempo.
— A técnica não estressa o animal e ainda ganha em rapidez e eficiência da tesoura manual — observa Carlos Cleber Dias Leal, diretor-presidente da Cooperativa de Lã Tejupá, de São Gabriel.
Com cerca de 3 mil associados em 60 municípios, a cooperativa firmou convênios com governo e Arco para disseminar a técnica. No Uruguai, o método é usado por mais de 80% dos pecuaristas. No Estado, estima-se que seja 20%.
Ao reduzir o tempo em relação à tosquia tradicional, de 20 minutos para menos de cinco, a Tally-Hi aumenta a eficiência — de 40 para mais de 150 animais por dia.
— Além de ser mais ágil, a tosquia é feita com qualidade maior, separando as lãs superiores das inferiores — explica Leal.
Fonte ZH
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